Arquivo do blog

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Errissage du contier

Ele saiu... assim... de de repente não tinha nada. Só um olhar e saiu. Partiu, mas prometeu que voltaria. Eu, ali, não movia um nada. Era só um pedaço de gente parado, sem nem respirar. O ar entrava porque queria. É que o nó era tão grande que engolia cada célula. Todas choravam em uníssono. Em coro gritavam o maior silêncio que já senti, dos pés à cabeça, tremendo, ali, imóveis. Em pé, caí depois de horas no mesmo lugar. Nem sequer o pensamento se moveu, estático, congelado naquele momento, naquele maldito olhar, naquelas palavras. Ele continuava sempre repetindo, acabava e recomeçava, por muito tempo. Ainda hoje me pego ouvindo o silêncio daquelas mentiras, flácidas, tortas, mortas. As pernas em greve, os olhos cristalizados, boca entreaberta, seca, coração inchado. É que o sangue não tinha mais porque correr, alimentando a vida que evanescia. Ele foi sincero até não aguentar mais. Falou cada pinguinho de verdade que lhe corria pela mente, a mil. E eu entendia, juro que sim. Não queria nada daquilo, isso não. Doía imaginar como seria dali para frente. Seria. Teria que ser. Ele voltaria.

Não voltou. Quiçá ligou pra dar notícia ruim. Nada mesmo. Dias depois eu ainda andava pelo apartamento sem muita força pra parar de andar. Era bizarro me ver daquela forma: um marmanjo, no auge dos vinte e cinco anos, com uma puta barba feia na cara e raros banhos em uma semana e meia. Triste. Talvez essa seja a melhor das palavras. Era triste imaginar que um cara tão maduro pudesse se tornar aquela ameba de duas pernas automáticas e dois braços equilibristas. Do apartamento antigo pouca coisa havia sobrada já naquela época. Pegava-me em meio aos sonhos guardando tudo que um dia me fez referência a ele. Qualquer coisa. Um palito atrás do sofá, a bituca de cigarro da irmã dele no cantinho escondido da varanda, os temperos na cozinha. Todas as memórias foram, dali, aos poucos, sendo consumidas pela falta dele. Era, agora, um apartamento meu. Em cada detalhe. Um local todo pela metade. Tinha os pires, mas nada das xícaras, a tv, mas nada do dvd, a mesa sem cadeiras. Eu tinha meia, mas sapatos? Todos dados por ele! Esses nem sei onde foram parar. Dia desses ouvi pelos corredores que tinham jogado coisas na piscina.

Distraído, voltei a escrever meus poemas. Ali descobri que não tinha talento. Juro que não fiquei triste. É que fazer poesia me lembrava das ideias malucas e comentários amorosos de cada linha que eu lia com as cabeças eu seu colo. Suspiro, respiro, transpiro, balbucio um desejo extremo de reparação. Um momento lúcido perante tantos outros de impulso. Um errissage du contier, meu neologismo doido, vindo dos mais rasos sonos, aqueles dos quais acordamos pensando algo e, se não os gravamos ou escrevemos, ficam pra sempre perdidos, mas que fazem muito sentido. Sonhos como os que sonhamos que fossem as partidas, meros sonhos. Então acordo e sei: nem os sonhos me enganam, ele se foi.



Um comentário:

  1. tem umas metaforas q vc faz q ficam mto boas mesmo.. rs
    nao to achando a q eu mais gostei.. mas tve uma.
    e adoro a passionalidade.

    ResponderExcluir