Um
pequenino cão aguda o ladro quando passa Pedro sobre o tapete
boas-vindas da casa bege do Largo Esperança. Morre Badu dormida
câncer sobre o sofá de dois lugares da sala menor lá atrás do
piano esmeralda que abre a casa aparentemente adormecida. Já
vou grita Adriano guardando prazer – click click –
offline ao bagunçar cabelos sob boné e zíper porra,
cadela, enfia no cu o latido mete um pé na cadeira do
quarto, cai e grita à bosta mazela o choque filho da puta!.
Vum vum vão ventilando três hélices vento da janela competindo às
nove da manhã apática porém viva d’aquelas férias surradas
entre julho e agosto dos doze anos de Daninha parabéns(!) Mãe! grita
acordada parabéns pra mim dia dezenove Pai! escuta no
cu o latido – tum – caiu o irmão. Late
late Elefa! grita Fernandes à empregada obesa
sentada de boca cheia tô comondo! cuspindo bolacha
barata ao que – cof – esfrega a boceta dourada, abre-a e saca o
fumo da manhã relaxa pensa puta à geladeira neve,
mais fru-frus que carcaça, como dizia a nojenta Badu saí da
zona e atende o celular, é Gil. Vizinha à bege, verdinha é
pequena no Largo com portinha janela parede só. De todas do bairro a
menor por fora e o mundo entranhado, pena que paralelo à doméstica
Gil analfabeta, excitada na brocha do vigia veado do
Esperança corno ria realmente indignada eu
dava mesmo, Elefinha começa um chorinho carente, abre
também boceta e acende o baseado da patroa Lurda tá
larica? coça a frieira Kely, cheira a mão os dedos
amarelados do fungo velho tô é no buraco puxa
outra cadeira pros pés trombosados, cada perna cinquenta quilos e
chinelo escondido entre dedos coxas de peru, o defumado pulmão
falhando ó... ai... calma... ar, deus... ufa... ó... –
cof – ... – rrrãããã – fodaseoJúlio uma
gota escorrendo sussurro já vai trabalhar? duas
gotas pondorasteirinha ouve Pai! desliga.
Lurda cheira maconha vai tomar café com Gil. Está de folga sorte
dela...
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Sílvio
Lima, Ensaio sobre a Essência do Ensaio (1944):
"O
ensaio tem de ser necessariamente crítico",
na medida em que "a
critica é a antítese do obscurantismo e traduz o repúdio do sono
dogmático. Em suma, o ensaio é uma atitude ginástica do intelecto
que, repudiando o autoritarismo, pensa por si só e por si próprio.
Quer dizer, o ensaio é o espírito crítico, o livre-exame.”
“Cada
escritor se julga no direito de rotular de ensaios, ou de ensaio, os
seus produtos. Como se o ensaio fosse, afinal, a fumarenta retórica,
o eruditismo formalista, o historicismo arquivístico, o comentarismo
estéril, o barroquismo conceptista e cultista, numa só palavra,
o anticriticismo!
O facto assume, entre nós, lusos, um aspecto mental inquietante.”
_______
*[from
Late Latin exagium a
weighing, from Latin agere to
do, compel, influenced by exigere to
investigate]
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