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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Exagium* I: Ensaio incompleto sobre um típico dia dezenove de sol

Um pequenino cão aguda o ladro quando passa Pedro sobre o tapete boas-vindas da casa bege do Largo Esperança. Morre Badu dormida câncer sobre o sofá de dois lugares da sala menor lá atrás do piano esmeralda que abre a casa aparentemente adormecida. Já vou grita Adriano guardando prazer – click click – offline ao bagunçar cabelos sob boné e zíper porra, cadela, enfia no cu o latido mete um pé na cadeira do quarto, cai e grita à bosta mazela o choque filho da puta!. Vum vum vão ventilando três hélices vento da janela competindo às nove da manhã apática porém viva d’aquelas férias surradas entre julho e agosto dos doze anos de Daninha parabéns(!) Mãe! grita acordada parabéns pra mim dia dezenove Pai! escuta no cu o latido – tum – caiu o irmão. Late late Elefa! grita Fernandes à empregada obesa sentada de boca cheia tô comondo! cuspindo bolacha barata ao que – cof – esfrega a boceta dourada, abre-a e saca o fumo da manhã relaxa pensa puta à geladeira neve, mais fru-frus que carcaça, como dizia a nojenta Badu saí da zona e atende o celular, é Gil. Vizinha à bege, verdinha é pequena no Largo com portinha janela parede só. De todas do bairro a menor por fora e o mundo entranhado, pena que paralelo à doméstica Gil analfabeta, excitada na brocha do vigia veado do Esperança corno ria realmente indignada eu dava mesmo, Elefinha começa um chorinho carente, abre também boceta e acende o baseado da patroa Lurda tá larica? coça a frieira Kely, cheira a mão os dedos amarelados do fungo velho tô é no buraco puxa outra cadeira pros pés trombosados, cada perna cinquenta quilos e chinelo escondido entre dedos coxas de peru, o defumado pulmão falhando ó... ai... calma... ar, deus... ufa... ó... – cof – ... – rrrãããã – fodaseoJúlio uma gota escorrendo sussurro já vai trabalhar? duas gotas pondorasteirinha ouve Pai! desliga. Lurda cheira maconha vai tomar café com Gil. Está de folga sorte dela...

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Sílvio Lima, Ensaio sobre a Essência do Ensaio (1944):

"O ensaio tem de ser necessariamente crítico", na medida em que "a critica é a antítese do obscurantismo e traduz o repúdio do sono dogmático. Em suma, o ensaio é uma atitude ginástica do intelecto que, repudiando o autoritarismo, pensa por si só e por si próprio. Quer dizer, o ensaio é o espírito crítico, o livre-exame.”

Cada escritor se julga no direito de rotular de ensaios, ou de ensaio, os seus produtos. Como se o ensaio fosse, afinal, a fumarenta retórica, o eruditismo formalista, o historicismo arquivístico, o comentarismo estéril, o barroquismo conceptista e cultista, numa só palavra, o anticriticismo! O facto assume, entre nós, lusos, um aspecto mental inquietante.”

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*[from Late Latin exagium a weighing, from Latin agere to do, compel, influenced by exigere to investigate]



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