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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dias perfeitos

Andando numa praça perto de sua casa, Tico achou uma nota de cinquenta reais. Nunca imaginara que a caminhada diária daria tanto lucro. Ganhou num dia o que ganharia numa semana! Podia comprar o tão sonhado radinho que funcionava em qualquer lugar! Afinal, eram cinquenta reais!

Não! Pra que comprar um radinho? Podia comprar carne chique pros três filhos comerem. Sim! A tal da carne de primeira; a que tinha gosto diferente da de cachorro; o vizinho, Tião, que já fora rico, disse que a carne de primeira tinha gosto fraco e bastante tempero. Mas a carne daria só pra um dia; isso não era bom.

Que tal dar um pouco do dinheiro pra cada filho?Aí eles poderiam escolher o que mais os deixaria feliz. E desde quando filho de Tico sabe contar? Pobre sabe ver televisão.

Poderia tentar comprar um aparelho de televisão; aí a família ia ver a Globo todo o dia! A Déborah Seco! Os “pessoal importante”! E o filho doente?

Sim, o caçula de dois anos estava com febre. Era verme na barriga dele. Cinquenta reais era suficiente pra curar ele? E a esposa esperando mais um filho! A filha mais velha de quinze anos; ela também estava grávida; e era do Manel padeiro! O filho do meio, Fi-do-Tico, indo morar na capital...

Olhou pro dinheiro. Tentou pensar, mas a fome não deixava. Continuou andando; feliz por não ter que pensar em dinheiro. A nota ficou no chão, pro próximo bobo.

22-03-06
11:08:59

2 comentários:

  1. O problema de fato não era o dinheiro, mas era o pouco.
    Bonito texto.

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  2. bonito mesmo, gostei da idéia. ótimo final.
    abraço

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