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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Caiu (me ame, me sonhe, me viva)

Caiu menino deitado de lado na grama. No campo, menino sincronizado da cidade que, mesmo em seu orgulho de ser moderno, no fundo, mas nem tão no fundo, tem raiz ali, no natural, na natureza, na natural beleza. Sentado puro na cama, a olhar bem dentro dos olhos dum moleque desnudo, que ganha na vida por, que seja por pouco tempo, vento frio a emoldurar o espaço, estar ali, confinado, usado ou usando, sempre gostando sem ser gostado, sem ousadia. Ali está o que sempre o menino quis, que seja imaturo ou maduro, franzino ou parrudo, esperto ou sortudo. Mal sabe ele, já que o que ele sabe aqui está escrito, quem é esse garoto e eles se abraçam. Nesta ficção que vos conto, há um menino de ouro. E um moleque qualquer a desenrolar o enrolado dos cabelos desse menino. Deitados de lado no verde, banhando-se ao sol, fundindo-se a tudo o que voa e é feliz, descansando, esperando a pressão passar. Esperando a calmaria pra voar. Voaram como em sonhos que compartilhavam, às vezes ao som de uma diva, outras ao som do silêncio. Mais marcantes são os cenários por onde passam, às vezes dançam sobre um chão amarelo que se estende em quilômetros a se perder de vista, outras por sobre cabeças a olhá-los crescer e subir e subir e subir na vida. Juntos. Sem armar contra ninguém. Sem ignorar também. O moleque avista uma nuvem e quer parar, curtir por sobre as águas dum oceano maior que os oceanos juntos, brilhante como diamantes e repleto de amor. Agora, deitados olhando o céu, as mãos roçando quietas, sentem, ou sabe-se lá qual dos dois sente, creio que o moleque apenas, um fibrilar que há muito não sentia. Caíram afundados naquele oceano seco, molhando-se em lágrimas no mirar da cidade. O campo há muito se fora em presença, era, na vida dos dois, um estado de espírito, um poder de liberdade, uma nostalgia do que nunca passaram juntos, mas viviam secretamente. O menino, então, coberto, aquece o coração, uma vez mais, um balão de ar quente que infla, infla, infla, infla, estufa o peito pro mundo e grita Eu amo! assumindo ali que no passado ficou o que caiu de seu trem E eu me amo! gritou o outro, assumindo ali que viver sozinho podia ser bom ou até que era bom, mas completou Eu me amo amando alguém e sorriu ao fitar o sorriso do outro que sorria com os olhos, brilhantes, lacrimejantes, diamantes que brotavam com natural certeza de que podiam refletir a alma daquele ser que era feliz e tinha que sentir que estar ao lado do outro era a escolha certa, devia, mesmo que fosse a escolha errada, tentar olhar novamente os olhos daquela outra alma transbordando incerteza e dizer Vem, a vida comporta sonhos, que comportam amor. Ame, sonhe e viva ao que abriram seus olhos ou, aqui, os fecharam.

2 comentários:

  1. A Débora Pereira comentou isso, mas não conseguiu postar aqui:

    "Amei, acho simplesmente incrível como você transforma os desejos, angústias em algo doce, daqueles difíceis de digerir mas ótimos de saborear, a sua facilidade de colocar no papel os anseios e receios de um sentimento é inacreditável. Perfeito como o amar precisa de lágrimas de felicidades..


    Adorei, beijão Fê"

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